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Foto do escritorDra. Luciana Gandra

Slow Medicine: entenda essa tendência

As dificuldades do setor de medicina suplementar (convênios médicos), foi tema de um caderno da Folha de São Paulo no último final de semana. O diagnóstico está feito: Mudanças serão necessárias para que os planos de saúde sobrevivam.





Como médica, vivo a interface entre clientes e convênios médicos. Com olhar crítico, observo muitos dos problemas existentes nesse relacionamento. A inflação médica alcançou 20,4 % em 2017, bem acima da inflação de 2,9 % medida pelo IPCA. Obviamente, as operadoras repassam esses custos para seus usuários (pacientes), que muitas vezes precisam abrir mão do plano de saúde e utilizar os serviços do SUS. A maioria das operadoras não oferece planos individuais, apenas empresariais. Sendo assim, sobram poucas opções para o consumidor, e os valores não param de subir.


Será todo esse aumento culpa exclusiva das Operadoras de Saúde?

A resposta é NÃO. Existe um conjunto de fatores que criou uma bola de neve, e cada setor tem sua parcela de culpa. Seguem alguns pontos importantes:

  • ausência de transparência por parte dos prestadores de serviço

  • as operadoras precisam incorporar a todo momento novas tecnologias, exames caros e tratamentos onerosos

  • há um envelhecimento da população, incrementando o volume de doenças crônicas e degenerativas

  • infelizmente, há fraude e desperdícios nos hospitais

  • a crescente judicialização da saúde, faz com que o médico trabalhe na defensiva

Exemplificando, 162 exames de ressonância nuclear magnética para cada 1000 habitantes foram feitos via saúde suplementar no Brasil em 2017, sendo que a média nos países da União Européia, EUA, Austrália, entre outros, é de 52 exames por 1000 habitantes.


3 milhões de usuários saíram dos planos de saúde no Brasil entre 2014 e 2017. Por outro lado, pessoas procuram SAÚDE, onde deveriam ir apenas quando estivessem doentes. Fazem extensos exames de check ups, como se isso garantisse alguma coisa. Comem mal, vivem estressados e sedentários. Aos finais de semana, lotam serviços de emergência em busca de algum exame que finalmente diga o que está errado. Infelizmente está tudo errado.


Existem de fato muitas doenças que podem ser diagnosticadas precocemente com exames periódicos, como câncer de mama, de próstata, de colo uterino, hipertensão arterial, entre outros.


Porém verdadeira prevenção de doenças não é ANUAL, e sim DIÁRIA, na feira, na cozinha , no estilo de vida, na felicidade!

A medicina tradicional evoluiu muito nas últimas décadas, ficou muito eficiente em diversos contextos. Infecções agudas, atendimentos de politraumas, cirurgias refinadas, todas capazes de estender a vida dos seres humanos com dignidade. No entanto, não podemos extrapolar e aplicar essa metodologia em todas as áreas.


Já ouviram falar em Slow Medicine?

Um conceito ainda em construção que, a meu ver, oferece soluções para muitas das questões relacionadas a saúde na atualidade. Aqui, a conexão entre profissional e paciente se aprofunda, há uma investigação real da vida e dos hábitos do doente, resultando em um plano de tratamento no qual ele esteja plenamente envolvido.


O pesquisador Hildegard Von Bingen nos brinda com uma maravilhosa metáfora sobre as visões da Medicina Tradicional e Slow Medicine. Para a medicina tradicional, o corpo é uma máquina , pensamos de forma mecânica sobre as doenças. A ação é rápida: algo está errado e o reparo deve acontecer imediatamente. Isso funciona muito bem em situações como emergências, cirurgias e afins. Já no conceito de Slow Medicine, o corpo humano é uma planta, e o médico, um jardineiro. Se a planta não vai bem, o jardineiro se questiona sobre suas necessidades: mais sol, talvez menos água, será preciso trocar seu lugar no jardim? Assumimos que a planta tem força e capacidade de prosperar, desde que o jardineiro disponibilize suas necessidades básicas.


"o corpo humano é uma planta, e o médico, um jardineiro."

Assim, precisamos de tempo para ouvir, refletir e ajudar os pacientes nas suas escolhas. As decisões devem ser compartilhadas, levando em consideração as expectativas e preferencias individuais. O médico auxilia o paciente no caminho do autoconhecimento, um percurso mágico a ser traçado durante toda a vida.

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