“Temo que tenhamos higienizado demais e patologizado demais a infância, criando nossos filhos no equivalente a uma cela acolchoada, sem a possibilidade de se machucarem, mas também, sem meios para adquirirem ferramentas que os preparem para o mundo.
Ao proteger nossas crianças da adversidade, será que fizemos com que morressem de medo dela?
Ao reforçar a autoestima delas com elogios falsos, medalhas e prêmios desmerecidos, sem ensinar as consequências do mundo real, será que não as tornamos menos tolerantes, mais cheias de direitos e o pior: ignorantes dos próprios defeitos de caráter ???”
Esse texto não é meu, foi extraído da revista Vida Simples... mas me representa totalmente. É muito interessante testemunhar no papel uma ideia que sempre esteve dentro da sua cabeça mas nunca foi externada. Enfim, vou contar uma história pra vocês :
Me lembro do dia em que o André, meu filho mais novo, entrou numa galeria de arte. Lá, crianças eram encorajadas a fazer um desenho bem bonito e ganhariam um prêmio , algo como uma medalha ou coisa parecida.
André ficou entusiasmado. Foi até uma grande bancada de desenho repleta de folhas, lápis, gizes e fez um desenho todo bacana. Coloriu , caprichou e de fato, ficou um bom tempo envolvido na tarefa.
Quando enfim finalizou sua pequena obra , dirigiu-se ao senhor que cuidava da exposição e entregou-lhe o desenho. O senhor por sua vez sorriu imediatamente ao contemplar o pedaço de papel. Elogiou. Virou-se em direção a uma caixa e de lá sacou uma medalha. Entregou-a para o André solenemente e parabenizou o pequeno por fazer um desenho tão lindo .
André por sua vez estranhou muito aquele movimento e perguntou: "mas porque está me dando a medalha ?? E se houverem outros desenhos melhores que o meu??"
O gentil senhor contou que as medalhas eram entregues a todas as crianças que faziam um desenho ! Sem mais explicações, virou-se e foi cuidar dos possíveis compradores de suas obras ( depois descobri que ele era também o artista que estava expondo ).
Diante da impossibilidade de travar uma discussão e argumentar sobre suas expectativas, o pequeno pegou a medalha sem nenhuma demonstração de entusiasmo e saiu com o objeto na mão, sendo arrastado pelo chão frio do Shopping Center.
No pescoço ela não teve espaço. Dentro da sua lógica de criança, medalhas devem ser entregues pra quem merece .
Me encarou e disse : " mamãe , qual a graça de ganhar uma medalha sem competição ??"
Tentei explicar que se tratava de uma gentileza por parte do dono da galeria, que desta forma incentivava crianças a fazerem seus desenhos ( dando a chance dos seus genitores apreciarem alguns quadros ) .
Inútil . Aquela atitude era inteligível dentro do seu mundinho de criança .
Lembrando da minha infância, não faltavam momentos para que as competições se estabelecessem. Desde prêmios para a melhor fantasia no carnaval do clube ( o qual nunca ganhei ), prêmio do concurso de Ballet , na natação , no inglês ... será que isso era ruim ?
Já nem sei dizer. Só sei que concordei e acolhi a indignação do meu filho . Deixamos a medalha meio esquecida na cadeira do restaurante. E pronto. Não se fala mais nisso.
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