Quando perdemos nossa criatividade? Em que momento passamos a valorizar aquilo que não temos?
“Olha!! Ganhei um dragão!!!“ Dedeco veio correndo me mostrar a novidade.
Sua festa de aniversário estava começando e ele recepcionava os amigos, fazendo questão de abrir as surpresas que chegavam. Olhando pra ele imediatamente retruquei: “É lindo! Mas você ganhou um desses na semana passada, da vovó! Lembra?”
É claro que ele lembrava. Havia sido seu brinquedo favorito dos últimos dias, companheiro de aventuras radicais.
A mãe do coleguinha logo se adiantou: “André, não tem problema, eu troco por outro dragão, diferente do que você já tem! Posso levá-lo??”
“Não!!!!! “ exclamou o aniversariante injuriado, com lágrimas brotando nos olhos .
Nós adultas, insistimos no plano de trocar o brinquedo. Seria rápido, no máximo até quarta-feira o novo dragão estará aqui!!! Porém isso só piorou a crise já instalada.
“Mamãe, eu não quero um dragão diferente, quero esse, que será o irmão gêmeo do Gelinho !“ explicou a criança em meio a soluços de indignação.
Dragões gêmeos.... como não pensei nisso antes???
Em que momento da nossa existência deixamos escapar essa capacidade de enxergar o extraordinário em situações aparentemente desfavoráveis ?
No decorrer da vida, o mundo ensina nossas crianças a valorizar tudo que eles não tem. Muitas vezes somos coniventes, com a desculpa do amor maior do mundo.
No final da festa ele me pede: “Mamãe, solta o Dentuço dessa caixa?”
Cortando as amarras que prendiam o dragão à caixa de papelão, desejei profundamente que ele ficasse sempre assim. Surpreendente. Criativo. Criança.
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