Aquela correria logo cedo. Entra no carro, pega mochila, coloca o cinto,vai pra lá, vem pra cá . No fundo a gente adora!!! Nesses trajetos brotam as melhores conversinhas!!
Outro dia foi assim:
“Mamãe, sabe que eu estou preocupado?” Indaguei - Com o que ?
“Um cortinho, bem aqui ó, na perna. Na verdade eu estava preocupado, mas lembrei de umas coisas que você me contou e agora não estou mais”.
- Que coisas André ?
“ Você falou que a pele é sabida, tem vários soldadinhos trabalhando o tempo todo pra fechar qualquer cortinho que eu fizer. “
- Ahh! Eu falei isso?? Legal!! É assim mesmo. “Mamãe, eu posso ir bem alto no trepa trepa, que se eu cair, os soldadinhos arrumam meus cortes!?”
- Deco, você pode fazer aquilo que sua teacher achar seguro.
- “Tá bom. Sabe, às vezes eu fico preocupado de ficar doente. E quando a preocupação vai embora, é muito bom né!?”
Tenho convicção que um portal mágico se abre enquanto estou transportando as crianças. Talvez a nossa disposição no carro funcione como um divã de terapia, ou o fato de não estarmos cara a cara também facilite a conexão.
As vezes o depoimento vem espontâneo, brota limpo e transparente como água da rocha. Outras ocasiões precisam de um empurrãozinho. A medida que amadurecem, preciso ficar mais ativa no meu papel de entrevistadora. De repente jogam um tema, alguma coisa que estava louca pra ser dita, e cabe a mim dissecar delicadamente o assunto. Outro divertimento é ouvir nossas músicas preferidas! Olha que o negócio é eclético!!! Tem também a hora da bronca. Eu particularmente gosto de fazer meus discursos no carro. Ao nos aproximarmos do destino final, vou resumindo, coloco uma frase de efeito, um beijo e tchau. Quando nos vemos novamente, a bronca passou e o climão se foi. Esses pequenos momentos, fugazes e intensos, são preciosos pra mim. Sinto que estreitamos nossos laços, melhoro minha comunicação e aprendo a fazer as perguntas certas.
Dia desses bati os olhos numa reportagem que trazia uma lista de perguntas para mães e pais substituírem o famoso: “como foi a escola hoje?” Posso dizer que minha performance como entrevistadora na volta da escola foi aprimorada!
“Todos os dias é um vai e vem, a vida se repete dentro do carro”.
Nunca sei quando voltaremos a falar sobre aquele assunto delicado, ou se na próxima viagem ficaremos em silêncio, cada um no seu mundo particular. Sei que me esforço em aproveitar cada olhar, gesto ou palavra, para garantir uma conexão. Vale a pena olharmos para nossa forma de estabelecer comunicações firmes e duradouras com os filhos. Lembrar sempre que a falha pode estar também na nossa postura como entrevistadores.
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